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13 ABRIL 2019 |
Se a Câmara Municipal de Cascais fosse uma empresa que
no final dum ano apresentasse lucros de 67,7 milhões de euros, seria caso para
que os acionistas esfregassem as mãos de contentamento e, em gratidão,
premiassem generosamente o Conselho de Administração que tão gordos dividendos
lhes proporcionou.
Mas não é: a CM existe para
satisfazer as necessidades colectivas dos munícipes, usando para isso os
impostos, as taxas e tarifas; que devem ser proporcionais à capacidade de
execução municipal e, também, dos recursos económicos das pessoas. E em 2018, a
coligação PSD/CDS, cobrou às 210.000 pessoas que vivem em Cascais mais 67,7
Milhões de euros que aquilo que era necessário para fazer o que não foi feito.
Se há tanto dinheiro a sobrar,
porque não se resolvem os problemas que nos afectam e complicam a vida?
De facto, os tantos milhões
que sobram nas contas da Câmara são uma parte dos 3.500 fogos de habitação
social recenseados em falta, dos quais nenhum se construiu em 2018. São uma parte
daquilo que a Câmara se “esqueceu” de investir para reparar o degradado parque
habitacional social à sua guarda, com muitos dos moradores obrigados a pagar
rendas que têm pouco de social.
O muito que sobra é, também, o
muito que falta para que de vez se resolvam os graves problemas de saneamento que
existem em bairros do interior, onde as fossas quando cheias ainda despejam
para as ribeiras.
Os tantos milhões que sobejam
são os equipamentos sociais que nos faltam. São os parques e zonas verdes que
não temos na proximidade dos aglomerados habitacionais. São os pavilhões gimnodesportivos,
os campos de jogos ao ar livre e as piscinas municipais que o PSD/CDS e Carlos
Carreiras consideram que não fazem falta à população de Cascais, esta população
que só num ano entregou à Câmara 67,7 Milhões de euros a mais que aqueles que
os dirigentes políticos foram (in)capazes de usar.
Mas o que excede é também uma
boa parte daquilo que ficou a faltar ao tecido empresarial de Cascais,
constituído em cerca de 95% por micro, pequenas e médias empresas, responsáveis
por quase 80% dos postos de trabalho aqui existentes. Empresários e empresas a
quem a Câmara cobra, taxas e tarifas que chegam a custar entre 300 a 800% mais
que as pagas nos concelhos vizinhos. Factores que contam quando se sabe que o
rendimento líquido das empresas e dos trabalhadores que laboram em Cascais é
mais baixo que a média das empresas sedeadas na demais Área Metropolitana de
Lisboa.
Carlos Carreiras atreve-se a
dizer que o formidável resultado nas contas da “empresa” que administra foi alcançado
com a “descida dos impostos”!
Nada mais falso. As receitas
directas de todas as rubricas, onde
se contam as mais de 500 taxas, tarifas e impostos municipais, cresceram em 2018
em termos absolutos, tendo o IMI produzido mais 2 Milhões de euros, apesar da
descida da taxa nominal em 0,01 ponto, para 0,37%. Tal como cresceram as
receitas com multas de todas as espécies que castigam os munícipes incautos. O
IMT cresceu para 74 Milhões de euros, reflectindo o escandaloso processo que
tem levado à desenfreada especulação imobiliária e à imparável construção de
novos fogos, no Concelho onde se estima que por cada um dos habitados existam
2,5 fogos desocupados, com mais uns milhares em rampa de lançamento para serem
construídos.
Quando fala na “descida dos
impostos”, Carlos Carreiras parte do princípio que os munícipes ainda não deram
conta que é em Cascais que se paga o IMI mais caro do país. Que não sabem que é
aqui que a factura da água e do saneamento é recordista nacional entre as que
mais custam a pagar. Que é aqui, apesar de toda a propaganda, que a mobilidade
é mais difícil e mais cara para quem todos os dias tem de sair e entrar. Que é
aqui que o custo de vida é mais alto que em qualquer outra parte do país.
Carlos Carreiras esquece-se de
nos dizer, que a Câmara de Cascais é aquela que entre as 308 existentes em
Portugal mais se governa com o dinheiro que provém directamente dos bolsos dos
munícipes.
Aquilo que facto são os 67,7
milhões de euros a mais que a CM foi buscar ao rendimento dos cascaenses, é a
medida da enorme incompetência da aliança política PSD/CDS/Carlos Carreiras
para gerir e concretizar as necessidades e aspirações de melhor qualidade de
vida que as 210.000 pessoas que cá vivem, e que tanto pagam, têm legítimo
direito.
*VEREADOR DO PCP
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*Os artigos de opinião publicados são da inteira responsabilidade dos seus autores e não exprimem, necessariamente, o ponto de vista de Cascais24.

1 comentário:
Excelente artigo .
A coragem de denunciar o "polvo" que existe em Cascais, merece todo o nosso apreço .
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