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06 MARÇO 2019 |
Passaram na semana passada oito
anos que Carlos Carreiras assumiu a presidência da Câmara de Cascais, em
virtude de António Capucho se ter afastado a meio do seu terceiro mandato por
motivos de saúde.
A coligação aproveitou a
ocasião para manifestar contentamento com os sucessos alcançados neste tempo,
realçando a instalação dos mestrados da Universidade Nova em Carcavelos e o
enorme incremento do turismo. Nada fala, naturalmente, do descontrolo na
especulação imobiliária que voltou a atingir Cascais nos últimos anos.
Mas serão estes feitos
apresentados efetivamente sucessos ou, pelo contrário, é pouca obra para oito
anos de gestão?
Comecemos pela Universidade. Sim,
é um sucesso sem dúvida. No entanto, este é um investimento totalmente autónomo
da Câmara. O município limitou-se a apoiar a ideia e, mesmo assim, arranjou uma
trapalhada pelo meio.
Ou melhor, talvez outro
executivo tivesse optado pela compra do terreno por valor de mercado, como a
lei indica, e não por uma expropriação administrativa por um preço irrisório.
Este procedimento adotado pela autarquia deu origem a um processo em tribunal que
não sabemos quanto tempo vai demorar nem quanto dinheiro vai custar aos
contribuintes.
Bom, mas temos o Turismo, este
sim um sucesso da autarquia. Afinal, a Câmara investe 8 milhões de euros em
eventos por ano com a justificação de promover a atração turística do concelho.
Comparemos então com o resto
do país.
De 2011 a 2017, último ano dos
dados disponíveis no INE, o turismo em Cascais subiu 400 mil dormidas anuais.
Passamos de 1.190.000 dormidas em 2011 para 1.590.000 em 2017, um incremento de
33.6%.
Em Portugal, no mesmo período,
passamos de 39.440.000 para 65.380.000 dormidas, mais 25 milhões de turistas a
dormir, em números aproximados, representando um incremento total de 65.7%.
Ou seja, enquanto Portugal
alcançava a marca de 65% de crescimento do turismo em seis anos, Cascais não ia
além dos 33% de aumento no mesmo período. O país via o turismo a crescer a uma
marca extraordinária superior a 10% ao ano, ajudando na recuperação económica e
na saída da crise, enquanto Cascais se limitava a metade desse crescimento,
perdendo o comboio do grande incremento turístico verificado nos últimos anos.
Neste campo, ficámo-nos pelo
acolhimento das excursões diárias dos turistas que se instalam em Lisboa e em
oito horas visitam Cascais, Sintra e o Cabo da Roca. Enchem as ruas, mas não
dormem e gastam pouco dinheiro. De resto, os oito milhões de euros investidos
anualmente pela autarquia nos eventos são totalmente inúteis para este turismo
que aqui passa de forma fugaz.
Resta-nos a comparação com os
mandatos anteriores: Os primeiros oito anos de Carreiras versus os primeiros
oito anos de António Capucho e de José Luís Judas.
Com Carreiras tivemos a Nova,
que é investimento privado, e o turismo, que afinal não foi assim tão bom
apesar de nunca se ter investido tanto dinheiro.
Com António Capucho, nos primeiros oito anos, tivemos o novo hospital, os centros de saúde de Alcabideche, Estoril e São Domingos de Rana, a Casa Paula Rego e a conclusão do programa de realojamento que eliminou as barracas. No desporto, permitam-me que chame um pouco a brasa à minha sardinha, foram feitos os pavilhões desportivos do Dramático, da Quinta dos Lombos e do Sassoeiros, bem como as piscinas municipais da Abóboda. A par disto, foi colocado um travão na especulação imobiliária que assolava o concelho desde os anos oitenta, contrariando-se a ideia que as licenças de construção eram fundamentais para assegurar a capacidade de investimento da Câmara.
Recuando ao tempo de José Luís
Judas (1993/2001) verificamos que a atual vereação também fica a perder: Nos
oito anos do socialista independente à frente da autarquia, foram feitos o
centro de congressos do Estoril, a Marina, a ciclovia do Guincho, a circular de
Alcabideche, iniciou-se a recuperação dos bairros clandestinos e dado um
impulso decisivo na eliminação das barracas no concelho. No entanto, tal como
agora, os patos bravos do concelho tinham rédea solta para fazerem praticamente
o que quisessem, desde que compensassem a Câmara com obra pública.
Comparando os três últimos mandatos
autárquicos, o de Carlos Careiras foi o que realizou menos investimento em
necessidades públicas e, a par com o de José Luís Judas, o mais permissivo à
especulação imobiliária.
É admirável como a atual
vereação se vangloria do trabalho feito, quando tão pouco foi executado e
tantas necessidades ficaram por resolver a nível da mobilidade, do arranjo dos espaços
públicos, do desenvolvimento económico ou do ambiente, apenas para falar das
questões mais prementes.
Outros artigos de JOÃO SANDE E CASTRO
+A árvore e a sinagoga
*Os artigos de opinião publicados são da inteira responsabilidade dos seus autores e não exprimem, necessariamente, o ponto de vista de Cascais24.
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+A árvore e a sinagoga
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1 comentário:
E se ele ganhar de novo vai acabar com o resto....
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