Opinião
O vigilante, do latim vigilantis, é um profissional que
protege. Neste sentido, pergunto-me: haverá bem mais precioso para proteger que
a própria Natureza?
Foi com esta questão retórica
que no passado fim-de-semana, entre 1 e 4 de Fevereiro, estive em representação
do PAN, como comissária política nacional, no XXI
Encontro Nacional de Vigilantes da Natureza, que se realizou em
Cascais e em Sintra. Esta experiência foi gratificante por múltiplos motivos. Por
um lado, tive a oportunidade de conhecer de modo mais técnico os desafios e as
soluções destes profissionais e, por outro, tive o privilégio de privar com as
pessoas e não apenas com os números que estas representam. Conheci uma faceta
muitas vezes escondida dos decisores políticos: a do relacionamento humano em
cenários informais.
Não descurando os valiosos
contributos partilhados e inúmeras necessidades que estes profissionais têm,
que são mesmo bastantes (fardamento, deslocações em trabalho, progressões na
carreira, idade média de cada profissional, etc.), estar e sentir com tão
dignos profissionais e humildes pessoas fez-me reafirmar a necessidade de
trabalharmos, todos os dias e de um modo mais afincado, para dignificar esta
profissão, garantindo também que o seu saber-fazer no terreno e no contacto com
as populações não se perca.
Os dramáticos incêndios do ano
passado recordaram-nos da importância, óbvia, de pensarmos e ordenarmos a
floresta com uma visão de continuidade para centenas de anos, e expôs,
tragicamente, a urgente necessidade de apostar nestes profissionais que acima
de tudo previnem danos e crimes ambientais.
A nível nacional, desde que
entrámos no Parlamento, e desde o primeiro Orçamento do Estado (OE), temos promovido,
infrutiferamente, o aumento efetivo e objetivo destes profissionais como método
preventivo. Atualmente existem apenas 119 Vigilantes da Natureza e no último OE
o Governo incluiu a contratação de mais 30 profissionais. Porém, estes números
estão muito aquém dos necessários. O PAN defende que o número de efetivos
deveria ascender no mínimo a 525 profissionais, tanto no continente como nos
arquipélagos.
Às propostas de reforço dos
Vigilantes da Natureza, não só do número, mas dos meios, o Governo tem sempre
alegado os elevados custos. Mas que custos humanos, sociais, económicos e
ambientais tem o país com os incêndios todos os anos?
Parece-me que a pergunta se
responde por si só. Infelizmente, denoto que, mais uma vez, o Governo vai pelo
caminho inverso ao da prevenção, preferindo apostar no combate a posteriori. Recordo, por analogia, o
investimento de Espanha. Por exemplo, em Andaluzia, um território com uma
dimensão semelhante a Portugal, existem cerca de 900 vigilantes, sendo que em
todo o país existem à volta de 7.000 profissionais nesta área.
Este incremento ajudaria
também à preservação e à expansão da biodiversidade local e regional, como foi
bem expresso neste encontro. Exemplo das dificuldades atuais é a
impossibilidade de expansão territorial do único casal das Águias de Bonelli do
parque natural Sintra/Cascais. Acresce a este fenómeno, de míngua das áreas
protegidas e vigiadas, a falta de corredores ecológicos entre áreas protegidas
ou áreas verdes entre municípios, medida presente no programa
eleitoral do PAN em Cascais e que esperamos ver acolhida neste
mandato. Falta a visão para ordenar o território de forma integrada, pensando
em todas e todos e não apenas no crescimento económico e urbano.
Por justeza, não posso deixar
de mencionar o empenho e o contributo dos municípios de Cascais e Sintra,
através dos seus executivos, para a realização deste encontro nacional. Sem
dúvida que é uma aposta ganha e que esperamos que continue a ser feita por
ambos.
Termino agradecendo o trabalho
desenvolvido pela Associação
Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza na
sensibilização da sociedade civil para a importância desta profissão. Com os
seus parcos recursos, os poucos Vigilantes da Natureza em Portugal enfrentam um
desafio incomensurável: com “pequenas pedras” combatem “enormes rochedos” da
destruição antrópica. Em suma, a Natureza, ou o que resta dela, precisa dos
seus Vigilantes, e estes precisam do esforço de cada um/a de nós para que
também elas/eles não desapareçam juntamente com as nossas florestas e a sua
biodiversidade.
*DEPUTADA MUNICIPAL DO PAN
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