Opinião
Como foi
referido recentemente num artigo aqui publicado por Manuel Rua, na última
reunião camarária foi deliberado autorizar dois lugares de estacionamento numa
moradia do Monte do Estoril. Por ter sido posta de parte pelo anterior
executivo camarário o Catálogo-Inventário do Património do concelho de Cascais e diminuída a proteção que os
mesmos mereciam ao abrigo do PDM, a moradia em questão irá ser demolida para
dar lugar a mais um edifício que vem contribuir para a descaracterização aos
pedaços e acentuada do Monte Estoril e, consequentemente, duma das partes mais
bonitas do concelho de Cascais.
Sucede que
essa destruição – como é cada vez mais evidente – está a ser feita de forma
acelerada e não se vê que, da parte da Câmara Municipal de Cascais (CMC), haja
qualquer intenção de reverter esse estado de coisas.
Pelo
contrário, a CMC parece congratular-se com aquilo que parece considerar ser “o
progresso”. Mas será “progresso” destruir a memória histórica dos lugares? Será
“progresso” arrasar edifícios que marcam uma época mesmo que estes não tenham
sido (por vontade do executivo) abrangidos na proteção que o PDM poderia
conferir? Será “progresso” esventrar edifícios esquecendo que a arquitetura é
tanto o interior como o exterior dos mesmos? Será “progresso” construir em cima
das dunas? Será “progresso” gastar dinheiros públicos na realização de obras ou
na instalação de equipamentos onde os mesmos não fazem falta? Ou será
simplesmente falta de visão, apoio à especulação imobiliária e utilização
errada dos dinheiros públicos? É que em Cascais abundam, infelizmente, esse
tipo de práticas que tornará (a muito breve prazo) Cascais um lugar que será
apenas característico pela proximidade do mar, hotéis e condomínios “golden
visa” mas não já por um património histórico e natural distinto.
Vejamos: a
título de exemplo, além do caso do Monte Estoril supra referido e que tanta
polémica gerou na última reunião camarária, é sabido que as cocheiras do Monte
Estoril já foram demolidas e o Hotel Paris, no Estoril, já está encerrado e
pronto para ser demolido. Simultaneamente, também no Estoril, continuam
abandonadas as Cocheiras de Santos Jorge (que a CMC já deveria ter tomado posse
coercivamente e reabilitado) enquanto se destrói a antiga Estação Telefónica e
dos Correios do Estoril. Este edifício está em obras que já eliminaram o seu
interior e muitos dos seus traços arquitetónicos originais. Inaugurado em 1934,
foi um dos primeiros e mais interessantes projetos do arquiteto Adelino Nunes,
que foi também o autor da Estação dos Correios do Estoril (inaugurada em 1942).
A demolição e alteração profunda que está em curso, em vez de recuperar o
projeto original, só contribuirá para a perda definitiva de mais um marco da
identidade do Estoril.
Ao mesmo
tempo, no Guincho, o sistema dunar continua a ser alvo de sucessivos ataques: o
parque de estacionamento da Cresmina está já em mau estado (depois de nele
terem sido gastos c. 150 mil euros, de acordo com aquilo que na altura foi
afirmado pelo Vereador Piteira Lopes) e com evidentes sinais de erosão
decorrentes da impermeabilização de que foi alvo; e, na Praia do Guincho, continua
a construção hedionda em cima das rochas e da praia de uma estrutura de apoio
que aniquila a beleza selvagem daquela que já foi considerada uma das 7 maravilhas
de Portugal.
Como se tal
não bastasse, a CMC decidiu agora instalar candeeiros de iluminação no trecho
de estrada entre o Muchaxo e a mata.
Esses
candeeiros (que, aparentemente, funcionam à base de energia solar) são um
péssimo exemplo da inutilidade de determinadas despesas públicas. Com efeito,
aquilo que poderia ser positivo e de louvar (o recurso à energia solar para
iluminação pública), neste local não passa de um erro: além do local não
necessitar de tantos candeeiros, estes estão colocados a muito curta distância
uns dos outros (basta comparar com a distância entre postes de iluminação no
resto da Estrada do Guincho) e a sua forma marca muito negativamente a
paisagem. Melhor seria, por isso, que a CMC os tivesse colocado noutras zonas
do concelho. Deste modo, a utilização de meios públicos não consubstancia mais
do que um gasto sumptuário e inútil que desfeia horrivelmente uma paisagem que
devia ser mantida o mais natural e intocada possível. Que as demais autoridades
que exercem poderes sobre a área do Parque Natural pactuem com estas coisas é
um sinal claro que muita coisa está mal.
O que é que o
atual executivo está a fazer face às crescentes e intensas pressões turísticas
e urbanas que ameaçam todo um território repleto de valores naturais e
arquitectónicos a preservar?
Onde está a
aposta numa arquitectura integrada na paisagem, na defesa do património
edificado e natural e na promoção do verdadeiro desenvolvimento sócio-económico
dos cascaenses que sentem diariamente o peso da construção desenfreada enquanto
se anulam as marcas do passado e a beleza da paisagem?
Atente-se que
uma política de sustentabilidade verdadeira deveria apostar, designadamente, na
substituição dos postes de iluminação elétrica por candeeiros de energia solar
dentro dos centros urbanos (onde é verdadeiramente importante a iluminação), e na
diminuição do consumo de energia elétrica através da supressão de postes de
iluminação onde os mesmos não se revelem necessários, como é o caso da zona do
Guincho.
Em breve não
teremos, pois, mais do que os resquícios e as memórias de um local que tinha
tudo para primar pela beleza do seu património arquitetónico e natural únicos e
se terá tornado num lugar incaracterístico e sem alma, parecido a tantos outros
que, infelizmente, abundam e desfeiam o País. Cascais, assim, nem retrocede (o
que, bem vistas as coisas, nem seria mau, em certos aspetos!...); avança destruindo
tudo à sua volta com a fúria de um buldózer.
Leia também outros artigos de PEDRO JORDÃO
*Cai o pano
*Vote a 1 de outubro!
*Cascais avança para onde?
*Da forma de estar na política
*Cascais, terra de pescadores?
*Adeus, Monte Estoril! Adeus, Cascais!
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4 comentários:
Subscrevo as tuas referências e ideias aqui expostas.
Imagino, entretanto, a pressão quotidiana dos promotores imobiliários junto do gabinete de S.Exa. o nosso amado edil-mor, com sugestões e conselhos para a modernização e melhoria do concelho na perspectiva deles, que é o lucro.
Ora, o nosso amado edil-mor, que já mostra uma consolidada careca, terá poucas defesas relativamente a quem generosamente lhe chateia a molécula, e amparado pelos que mais se interessam pela coisa pública, faz uma cedência aqui, outra além, e outras onde calhar, que as máquinas não podem ficar paradas.
Se o público leitor, em coincidência de pontos de vista com os restantes munícipes não gostarem dessas e de outras iniciativas em curso, e que implicarão a degradação da qualidade de vida local com toda a abrangência que isso implica (acessos e circulação viária, estacionamentos, assistência hospitalar com horas de espera no público e no privado, periferização dos estabelecimentos de ensino, qualidade dos transportes públicos, esforço no controle da poluição, manutenção das estruturas de distribuição de água e do saneamento, etc) teriam feito alguma reflexão sobre as condições propostas durante a recente campanha eleitoral. Agora, só se pode pedir-lhes atenção até ao próximo evento, enquanto aos partidos e movimentos de cidadania deve pedir-se que não cruzem os braços perante as aleivosias, que as denunciem perante as autoridades, que lhes dêem publicidade, e que não se acomodem até uma próxima campanha.
Caro Pedro Jordão ,
Como municipe, concordo totalmente com o exposto no seu artigo .
Isto é mais do mesmo , e até alguns novos deputados municipais da dita oposição , na segunda reunião de camara ,já constataram in loco que estão votados ao ostracismo ...veja o que está a acontecer com as situações geradas pela autocracia que vigora em Cascais , em que os municipes para defenderem valores intrinsecos de direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa, têem que recorrer aos tribunais, para impugnar decisões prepotentes ,impostas , arrogantes , sem dialogo , em que a opinião das pessoas não conta ... dou como exemplo as situações na Quinta da Carreira , Guia , Alto da Castelhana .... a situação de falta de transparencia é colossal ,não só porque não respondem aos municipes ,mas também procedem no atendimento municipal à selecção das reclamações, não registando as mesmas e por conseguinte discriminando no campo da igualdade e não discriminação , quem questiona o municipio , e apresenta provas documentais ...alguém conhece uma resposta da Cascais Próxima, em função de uma obra gerida por esta entidade ? a Cascais Próxima possui livro de reclamações ? Como será possivel que este elenco camarário eleito para servir os municipes não cumpra com as suas obrigações ???
Do exposto resulta que os eleitos que pugnam pela democracia de pleno direito em Cascais , não devem pactuar em nenhum processo relevante com esta maioria; a sua acção profícua deve ser junto dos seus eleitores , e denunciar as entidades competentes e meios de comunicação social todas as não conformidades detectadas ...a autocracia vai cair de madura ...
A BEM DE CASCAIS
Uma comichão aqui uma comichão ali, uma comichão aqui uma comichão ali...
Escrevi um comentário onde pretendia ver esclarecidas algumas questões e foi censurado, chegou a estar online mas depois foi retirado. tenho pena que democracia por aqui não fala caminho mas de qualquer maneira como os candidatos também não respondem às demandas dos eleitores não faz grande diferença, para lá de ficarmos a saber do que se trata aqui.
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