Opinião
Quinzenalmente temos a
oportunidade de partilhar ideias, posições e visões neste espaço e pese embora nos
últimos dias já tivesse em linha vários temas a expor, que derivam muito do que
somos como partido, ao ler os destaques noticiosos, num qualquer destes dias,
compreendi que deveria dar voz aos actos diários, muitas vezes invisíveis, que
todos nós temos.
Muito em contra corrente ao
expresso diariamente pelos meios de comunicação, há um sem número de acções que
garantem não só a estabilidade social mas que representam acima de tudo uma
real revolução social, mental e económica. A revolução, ou melhor evolução, das
mentes, dos actos, dos comportamentos.
A importância desta simples
factualização pode-se encontrar nas palavras do político e filósofo Irlandês,
do século XVIII, Edmund Burke: "Ninguém
comete maior erro que aquele que nada fez só porque poderia fazer pouco."
E quanto podemos quantificar esse
“pouco”? Que repercussões têm esses gestos tão simples? Onde termina o ciclo? Quantos
de nós diariamente se comprometem, mesmo inconscientemente, com actos e
comportamentos que dão real expressão à não-violência, à empatia, à harmonia, à
paz e ao amor?
Por exemplo, quando
tranquilamente gerimos o stress de outros condutores não dando azo à
continuidade da sua frustração, que o (ir)reflectem na condução, poderemos
estar na verdade a quebrar um círculo de agressão. Ora vejamos, o condutor
descarrega a sua frustração de estar atrasado noutros condutores, que por sua
vez chegam stressados ao trabalho e estes são chamados à atenção pela entidade
patronal. Durante o dia um deles acumula ainda mais stress e tensão. Depois de
um dia de trabalho árduo chega a casa e descarrega na mulher que por acaso é
professora. Pela manhã ela, nervosa, descarrega nos seus alunos, que por sua
vez chegam a casa e projectam essas ansiedades nos pais e assim se mantem, continuamente,
uma dinâmica de tensão e de stress. Se pensarmos em vários destes exemplos,
diários e rotineiros, compreendemos que existem múltiplas oportunidades deste
círculo ser quebrado. Como? Com acções, com comportamentos positivos que
contrariem a norma vigente.
Ainda sobre a importância da
“pouca” diferença que cada um pode fazer nesta dinâmica comportamental e social,
quantos de nós trabalham diariamente, na sombra, em defesa de pessoas, do bem-estar
animal ou mesmo em prol do ambiente? Todos e todas nós certamente, de um modo
ou de outro. E, por tal, considero relevante enaltecer esta mundana
continuidade onde se pratica o bem sem esperar reconhecimento.
Olhando à minha volta e vendo
estas pegadas, compreendo que podem ser bem maiores que os pés de quem as fez,
recordo-me de alguns bons exemplos do quão importante é agirmos e inspirarmos.
Ajudar uma senhora que não
consegue levar as compras da caixa do Jumbo até à paragem de autocarro. Depois
compreender que muito me agrada poder levá-la a casa, pois os horários da ScottUrb
são inadaptados à sua realidade, e no caminho conhecer um pouco da história
desta cidadã. Que impacto terei tido na vida dela ou ela na minha?
Ceder o lugar numa fila a pessoas
que mostrem sinais de pressa ou stress terá feito diferença ao seu compromisso?
A mim não fez diferença esperar mais um pouco. Valorizar a escolha de uma
filha, em pelo menos ter pensado em comprar uma senha escolar do menu
vegetariano, mesmo não o tendo, porque no mínimo considerou essa hipótese. Pode
este simples acto de valorização reforçar a sua confiança?
Garantir que existe uma palavra
de alerta, não de julgamento, para um comportamento que considere errado pode
permitir uma tomada de consciência com vista a sensibilizar para a mudança voluntária
e efectiva? Como sensibilizar para os impactos ambientais de atirar beatas para
o chão? Não julgando o acto de fumar mas sim a importância de colocar no lixo
estes resíduos? Apanhar aquele plástico ou embalagem que deambula pelas ruas
das nossas cidades e colocá-lo no lixo. Evitando a poluição endémica e
generalizada que hoje vigora. Separar caseiramente o lixo mesmo que se tenha em
mente o mito que todo o lixo separado vai para o mesmo lugar. Apoiando pequenas
grandes mudanças a nível local. Evitar comprar por impulso e tentar minimizar a
nossa pegada ecológica e hídrica. Levar sacos duradouros de casa para trazer as
compras, comprar produtos em avulso, sempre e quando possível locais e não
embalados. Diminuir o consumo de produtos e derivados de animais, optando por
outras opções mais ecológicas e saudáveis. Garantindo que os centros comerciais
não são a nova meca da convivência humana mas sim apenas centros de consumo
responsável.
Abraçar um amigo ou amiga porque
sim. Enviar uma mensagem ou ligar a um familiar só porque sim. Sorrir para um
estranho quando a situação assim o convoca, num gesto de cumplicidade entre
irmãos humanos, também porque sim.
Enfim, um sem número de acções
que todos nós, diariamente, fazemos mas muitas vezes nos esquecemos de valorizar.
Em nós, e nos outros. Sim, coisas simples podem e fazem a diferença. Em, suma,
a maior evolução é feita na acção e contemplação de actos não violentos por
isso valorizemos e façamos destas normalidades sonoras manchetes.
*Deputada Municipal do PAN
Leia outros artigos de SANDRA MARQUES
*Depois dos incêndios: a regeneração
*A afirmação de uma política empática
*Deputada Municipal do PAN
Leia outros artigos de SANDRA MARQUES
*Depois dos incêndios: a regeneração
*A afirmação de uma política empática
1 comentário:
Amei! Adorei! Vou partilhar.
Identifico-me a 100% com esta postura.
Todos somos beija-flores. ;)
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