Opinião
A inauguração da A5, em 1991,
representou um momento de viragem na vida do concelho. Ao dividir
longitudinalmente o território municipal, foi motivo de progresso para uma
parte dos munícipes Cascalenses e de retrocesso para outros tantos,
desequilibrando de forma atroz o município e gerando uma dicotomia que teve
repercussões graves que se vão multiplicando exponencialmente até à
actualidade.
Funcionando como barreira entre
a faixa do litoral e a do interior, foi a A5 que definiu os limites dos
excessos de construção vividos nessa época. A Norte da autoestrada, numa faixa
de terreno que deixou de usufruir da ligação directa ao mar e ao charme
cosmopolita a que o turismo dava ensejo, instalou-se um clima de incúria e
desinteresse, marcado pela construção desregulada e de qualidade precária que
foi acompanhada pelo fomento (hoje) inexplicável das construções ilegais. A
Sul, a valorização excessiva dos terrenos foi impulsionadora da especulação imobiliária,
mas definiu critérios de qualidade urbana que se cruzaram com a dinâmica
própria da propaganda, transformando a faixa do litoral numa espécie de montra
artificial do concelho.
Sem assumir esta situação, e
sempre negando que é esta a realidade que melhor caracteriza o Cascais que hoje
temos, o poder político nunca permitiu que os instrumentos de gestão do espaço
urbano pudessem enquadrar medidas de qualificação que invertessem o descalabro.
O P.D.M., o P.O.O.C., o P.N.S.C.C e os vários planos de pormenor que foram
aprovados, são omissos relativamente a esta necessidade e, dessa forma,
não só não incluem medidas que ajudem a requalificar o território municipal,
como acentuam essa realidade, permitindo que os principais investimentos se concentrem
junto ao mar e votando ao mais completo desprezo as muitas riquezas e
potencialidades que subsistem no interior, gerando dois tipos de Cascais
diferentes e uma espécie de munícipes de primeira e de segunda qualidade
Este Cascais a duas
velocidades, repleto de situações inaceitáveis a vários níveis, como o que
acontece na antiga aldeia de Quenene, em Polima, na Atrozela, em Miroiços, no
Zambujeiro, na Adroana e (infelizmente) em muitos outros locais do concelho,
compromete a qualidade de vida de quem reside nessas zonas degradadas, a
identidade dos Cascalenses que crescem nesses espaços e o futuro do nosso
concelho.
A vocação turística municipal,
pedra angular do equilíbrio que todos desejamos, exige que todos os Cascalenses
sejam tratados da mesma maneira. Exige que a qualidade de vida se estenda, de
forma plena, a todo o território concelhio, e só pode concretizar-se se
em termos políticos se assumir a barreira que a A5 representa, procurando assim
caminhos, formas e alternativas que permitam minorar o seu impacto.
Este é, sem sombra um dos
maiores desafios que se colocam a Cascais nos próximos anos. Reformatar as
políticas de forma a retirar do litoral a pressão absurda de ser cerne de tudo
aquilo que se vai fazendo, e recriando no interior factores de desenvolvimento
e de progresso sustentado que promovam a Identidade Municipal.
A bem de todas e de todos os
Cascalenses. Independentemente do lugar que habitam neste concelho.
2 comentários:
Sr.João Henriques
Com todo respeito pessoal permita-me que lhe diga que o seu artigo parece-me um grande equívoco.
Todo ele se baseia em que a A5 "foi motivo de progresso para uma parte dos munícipes Cascalenses e de retrocesso para outros tantos, desequilibrando de forma atroz o município e gerando uma dicotomia que teve repercussões graves..."
Ora isto não tema mínima base de verdade.
A dualidade de Cascais (litoral/interior) é muito anterior ao 1991 que refere.
A A5 apenas tornou evidente algo que JÁ EXISTIA com os bairros ilegais, a falta de acessos, a ausência de infraestruturas, as zonas de pobreza etc. Aliás a A5, com algumas limitações que tem, veio acentuar a necessidade de respostas para a zona que lhe fica a Norte o que começou a acontecer passados uns anos com o PER (Programa Especial de Realojamento, com a construção de infraestruturas e com o Programa de reabilitação das AUGI.
Dizer que, com a A5, o Norte do concelho "deixou de usufruir da ligação direta ao mar" é um absurdo porque S. Domingos de Rana e grande parte de Alcabidche NUNCA usufruíram dessa ligação e do 'charme' litoral que invoca.
Concordo consigo que há um Cascais dual (e classista, digo eu) a duas velocidades a que importa responder promovendo a coesão social e territorial mas a(s) causa(s) que apresenta estão completamente erradas.
Estando o sr. na lista do PS como um possível vereador (julgo que é o nº 3 dessa lista candidata) o seu erro revela um preocupante desconhecimento da realidade e das causas da inaceitável situação em que continua o Norte do concelho.
É pena.
Caro João Anibal Rodrigues ,
De facto, este tipo de discurso apesar de o seu conteudo ser verdadeiro não colhe nas pessoas ; não precisamos de Vereadores da Cultura em Cascais, apenas politica proactiva dirigida para as pessoas, numa mesclagem de aproximar eleitos de eleitores , em que a opinião das pessoas conta .
Cascais só avança, com politicas integradas em sustentabilidade, economica e ambiental.
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