Opinião
Circulam pelas redes sociais imagens sobre a prometida nova
entrada nascente para Cascais. As imagens são apresentadas em forma dupla, com
a atraente possibilidade de vermos, mudando a posição do cursor, o antes e o
(imaginado) depois.
São vários os truques de imagem para contrastar a situação
atual com a prometida. É pintado verde em cima das coberturas dos futuros
prédios de 4 andares, são desenhados sempre poucos carros onde, consabidamente,
o trânsito é insuportável e os futuros imaginados empreendimentos são
ilustrados com muito maior luminosidade.
Mas o que importa registar é que serão construídos cerca de
146 fogos (22.000m2) em prédios do tipo “caixote assimétrico” cuja altura ultrapassa,
em muito, o que ali existe hoje edificado e que haverá um muro que, quase
certamente, condicionará o acesso do público às zonas ajardinadas dos
condomínios.
Pouco é novidade. A estratégia das “imagens verdes” já tinha
sido utilizada na apresentação do malfadado projeto para a Quinta dos Ingleses
e o modelo arquitetónico do tipo Tetris foi testado no Estoril Sol.
O único aspeto porventura positivo do projeto é o
“soterramento” de parte do Jumbo e do parque de estacionamento. Porém, importa
lembrar, essa intenção tem no mínimo 20 anos e apenas agora parece concretizar-se
a troco de mais construção naquele
lugar. Perante esta consequência do Plano Diretor Municipal (PDM) imposto pelo
PSD/CDS é obrigação perguntar:
1. Permitir-se-á a alienação de até 17.459 m2 de terrenos de
domínio municipal (termos de referência da UEENC) na entrada nascente de
Cascais em troca de apenas 7.000m2 de ajardinamentos? Que defesa do interesse
público é esta?
2. O
que se pretende com a edificação de mais 1000 fogos (900 fogos para a
Quinta dos Ingleses, sem contar os diversos licenciamentos que têm sido
concedidos para as áreas circundantes, e 146 na entrada nascente de Cascais) em áreas privilegiadas do litoral do
concelho?
3. Por que motivo a Câmara não interveio para defender o património
histórico, designadamente a arquitetura de veraneio, que existe naquele
quarteirão?
Certo é que este projeto não
aliviará o tráfego que entra ou sai de Cascais; pelo contrário.
Numa reunião de vereação sobre mobilidade e trânsito,
especificamente sobre o acesso à vila de Cascais, foi assumido que a solução de
desnivelamento de alguns eixos da “rotunda do Jumbo” seria a mais adequada para
diminuir o atual problema de circulação viária. Todavia, foram os vereadores
das oposições informados que essa não seria a escolha da maioria PSD/CDS e que,
inclusivamente, existiria a tendência para optar pela futura criação de uma via
de 4 faixas na avenida 25 de abril (permitir mais uma via ascendente),
abdicando-se do passeio do lado norte e com necessário abate de árvores. Ou
seja, antevê-se que a prometida entrada nascente de Cascais não só agrave o
trânsito como “desloque” parte do problema para uma putativa reestruturação da
Av. 25 de Abril transformando-a numa quimérica quase-via rápida.
Em suma, o projeto para a entrada nascente de Cascais satisfará os interesses imobiliários, com
construção excessiva e diminuição da área de domínio público, mas não
resolverá o problema da intensidade de tráfego. Pretensamente contribuirá para
uma “melhoria estética”, mas à custa de património com interesse histórico
(propositadamente abandonado), permanecendo o ‘mamarracho’ do Cascais Villa e
acentuando-se o problema da circulação viária.
É pena!
A alteração da entrada na vila de Cascais poderia ser, de
fato, uma oportunidade para uma verdadeira requalificação da sua porta
nascente, com a possibilidade de recuperação das memórias de uma vila
piscatória e de veraneio aristocrático. Porém, com uma maioria PSD/CDS esta será (mais) uma oportunidade perdida.
Certo é que todos os vereadores das forças alternativas se
opuseram ao PDM imposto pela maioria PSD/CDS por permitir casos destes. Casos
da vitória anunciada do imobiliário especulativo. Casos em que o interesse
público municipal é desconsiderado em favor do querer absolutista de uma
maioria autoritária que representa apenas 16% dos cascaenses.
Finalmente, incumbe-me alertar que outros empreendimentos na
zona litoral e serrana de Cascais estão em preparação e serão decididos durante
o próximo mandato autárquico.
Como diria Natália Correia: “o embarque é agora”. Nas próximas eleições autárquicas, há
alternativas!
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