Opinião
2017 acolhe a segunda
edição do Cascais Christmas Village com direito a títulos de jornal e a peças
televisivas, porém a realidade dos factos não é descrita e mais uma vez impera
a política do fazer ver em vez do saber fazer.
Comecemos pelo nome do
evento: Cascais Christmas Village. Parece que estou numa qualquer rua de Nova
York prestes a celebrar o meu Natal numa das capitais do consumismo. Porque não
usamos a nossa língua para apresentar o projeto? Que errado tem em chamar
Cascais Vila Natal? Esta descaracterização tenta apresentar o evento como sendo
algo vanguardista, cosmopolita e multicultural, mas não passa de uma manobra de
marketing e “branding”.
Uma
das nossas preocupações prende-se com as muitas famílias cascalenses que se veem
privadas do seu direito de acesso gratuito ao Parque Marechal Carmona.
Relembramos que as condições de doação por parte do Conde Castro de Guimarães implicavam
que tanto o museu como o jardim fossem de acesso público e não condicionado a
um pagamento, pelo que consideramos a cobrança de entradas uma desvirtuação da
sua vontade e uma ofensa à memória do benemérito.
No
site oficial do evento podemos encontrar o preçário de acesso a este espaço
público. E vejamos. Uma criança até aos 2 anos tem acesso gratuito, mas sabendo
que nenhuma criança com esta idade vai sozinha a um evento inerentemente terá
que ser acompanhada por um adulto. E aqui uma criança de 12 anos paga o mesmo
que um adulto até 65 anos.
Tendo
em consideração que este evento já custa a todos os Cascalenses cerca de 200
mil euros, que ao menos fosse um investimento para todos os munícipes. Se todos
pagamos, que todos possamos usufruir. Mas é o contrário que acontece. Durante
este período apenas os Cascalenses que conseguem pagar bilhete podem usufruir
deste espaço verde e público. Os restantes estão privados de o fazer
livremente.
Estranhamos
também a escolha do Parque Marechal Carmona visto que existem muitos mais
espaço públicos que precisam e merecem dinamização. Porque não optar por um
espaço público no interior do concelho? Falta de acessos? Transportes públicos?
Parques de estacionamentos? É um erro não dinamizar uma cultura de proximidade
e de privilégio de zonas mais esquecidas e abandonadas.
Continuando, e focando a
nossa atenção nos direitos dos animais, vemos que o município anda, mais uma
vez, em contraciclo. Numa altura em que a exploração animal
é fortemente criticada pela sociedade civil, nomeadamente pelo sofrimento,
confinamento e stress de animais em eventos como os circos e as touradas, o executivo
promove este evento com o uso desnecessário de animais exóticos, nomeadamente
renas e camelos, como se de meros adereços (objetos) se tratassem. E neste
contexto não nos podemos esquecer do stress exercido pela poluição visual e
sonora do evento, aos animais residentes do parque Marechal Carmona, como sejam
os pavões, as galinhas, os gatos, os patos, as tartarugas, os cisnes, os peixes,
entre outras espécies. Sim, para o PAN todos os animais merecem respeito, e não
esquecer que perante a lei todos os animais são seres sensíveis passíveis de
proteção jurídica.
Por
fim, importa esclarecer que muitas das pessoas e famílias que frequentam este
evento não compreendem a magnitude do mesmo, logo o ónus desta crítica
dirige-se às políticas públicas deste executivo. E são essas vontades, justas e
meritórias, de estar em família, em paz, em celebração, em comunhão e
comunidade, que geralmente são aproveitadas por estes modelos de marketing e de
consumismo.
Cremos
que se poderia e deveria fazer melhor. O espírito deste período é de oferta,
cooperação e partilha, não de lucro, excesso e discriminação. Pessoalmente, não
irei a este evento pois não me revejo nesta cultura de massas, de “brandings”, e
que usa animais e crianças para fins lucrativos.
*Deputada Municipal do PAN
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1 comentário:
Quando o vereador do PCP, Clemente Alves, há alguns dias abordou este tema escrevi:
"Pagámos 203.000 para o "Christmas Village" ?
E quanto pagámos para o "Festival Internacional da Cultura" ? 270.000 euros ?
E para o "Metro Street Fest" quanto pagámos ?
E a "Festa do Livro" quanto nos custou ?
Afinal o que há de comum entre todos estes (e outros) eventos cascalenses?
Carlos Carreiras não dá ponto sem nó...
Talvez com a ajuda da seguinte fotografia se possa perceber um pouco melhor alguns mistérios de Cascais (uma ajuda...reparem nos sobrenomes dos presentes): http://picbear.com/media/1598110589989553532_5950646059
6 de dezembro de 2017 às 19:25"
Certamente alguns já perceberam que por detrás desta 'bondade' com que o chefe local do PSD/CDS acolhe estes eventos com o dinheiro dos impostos dos munícipes está uma mesma empresa - a UNISPORTS.
Assim, sempre o Dr. Carlos Carreiras faz uma "simpatia" ao Sr Pedro Costa (Manager of Business Development nessa Unisports)
Não será por esse senhor ser também "Vogal na Junta de Freguesia de Campo de Ourique" mas...afinal sempre é filho de uma pessoa com quem importa manter boas relações (pois agora até é Primeiro Ministro).
Vivemos num país de 'empenhos' e 'simpatias' e o Mayor cá do burgo sabe muito bem como sobreviver, mesmo gastando uns cobres do Zé Povinho.
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