![]() |
04 JUNHO 2019 |
Na sequência de uma denúncia
apresentada em meados de 2017 por João Sande e Castro (Também és Cascais), a
Câmara Municipal de Cascais foi recentemente obrigada pelo Ministério Público a
declarar a nulidade parcial das alterações que introduzira no Plano Diretor
Municipal (“PDM”).
A nulidade resultou da
eliminação ilegal promovida pela CMC de várias alíneas do regulamento do PDM que
fixavam o número máximo de pisos em 5 subunidades operativas de planeamento e
gestão (com mais de 60 hectares). Por sinal, as correspondentes,
designadamente, aos projetos em curso na entrada nascente de Cascais
(quarteirão do Jumbo); na Praça de Touros e na Marina de Cascais.
A eliminação do parâmetro relativo
ao número máximo de pisos veio permitir o encaixe das áreas máximas de
construção do PDM naqueles perímetros. Dito de outro modo, com a eliminação do
número máximo de 4 pisos previsto no PDM, o número de pisos nessas urbanizações
pôde aumentar (para 5 ou 6). Se se mantivesse o número inicialmente previsto, a
área de construção e o número total de apartamentos em tais urbanizações seriam
bem mais reduzidos.
Agora, com o retorno do
regulamento do PDM à versão original, de 2015, surgiu o problema dos pisos a
mais.
Situação tanto mais grave
considerando que, pelo menos, em duas dessas urbanizações (Bayview no quarteirão do Jumbo e One living na antiga Praça de Touros de Cascais), grande parte dos
apartamentos situados nos últimos pisos (já reservados em fase de projeto) teriam
que ser eliminados, com as consequências que podemos imaginar em termos de
pedidos de indemnização pelos promotores.
Foi então que a Câmara
“descobriu a pólvora”: passar a considerar que um apartamento duplex não tinha
dois pisos mas apenas um!
Este “extraordinário”
entendimento não só vai contra o senso comum (um duplex é, por natureza, um
apartamento com dois pisos) mas também contra a legislação em vigor (Decreto
Regulamentar n.º 9/2009).
Na Wikipédia, “Duplex ou apartamento duplex refere-se
a um apartamento repartido por dois andares e
conectados por uma escada ou ligação interior.” https://pt.wikipedia.org/wiki/Duplex_(edifica%C3%A7%C3%A3o)).
Mas, agora, para a CMC, 1 andar + 1 andar = 1 piso.
Qual a base técnica que
sustenta esta bizarria? Onde estão os pareceres técnicos do departamento de
urbanismo nestes processos?
E, já agora, o entendimento
segundo o qual em matéria de licenciamento de operações urbanísticas um
apartamento duplex passa a contar apenas um piso será aplicado de igual forma
em todo o território do município, ou só especialmente nestas operações
imobiliárias?... É que, se assim é, há muitas zonas em que poderá haver
duplicação de pisos!
Infelizmente esta promoção não
tem efeitos benéficos para os compradores (não se trata de levar 2 e pagar 1),
nem para os munícipes, na medida em que o aumento do número de fogos implicará
maior sobrecarga em infraestruturas que já estão no limite, com destaque para a
mobilidade e especialmente na entrada junto ao Cascais Vila.
Em boa verdade, o que resulta
da invenção dos novos duplexes de Cascais – “construa 2 pisos que só contam por
um” – apenas beneficiará os promotores imobiliários envolvidos. Não só encaixam
áreas de construção máximas (passando por cima de regras do PDM que condicionam
esse propósito), como aumentam substancialmente o valor do conjunto dos
apartamentos que passam a ser mais, mais altos (com melhores vistas) e
consequentemente mais caros.
Mas não é tudo: este original
enquadramento dos duplexes tem ainda outro efeito que também beneficia (apenas)
os promotores e prejudica os munícipes e o erário público: reduz potencialmente
o valor a pagar ao município pela compensação urbanística (relativa a espaços
verdes e equipamentos) na ordem das centenas de milhar ou mesmo milhões de
euros.
Se querem viabilizar edifícios
com mais pisos do que o permitido no PDM só têm um caminho razoável: apresentar
aos munícipes os motivos dessas alterações integrando-as num processo de
revisão do Plano Diretor Municipal. Da forma ilegal que fizeram e insistem em
fazer é (mais uma) fraude à lei que só beneficia os promotores imobiliários.
Como certamente o Ministério Público, mais uma vez, dirá.
Mas fica sempre a questão: será
que esta gente pensa que pode fazer tudo o que lhe apetece à custa da qualidade
de vida dos cascaenses e do erário público?
Nota: a definição de PISO na
legislação em vigor (Decreto Regulamentar n.º 09/2009) é a seguinte: “O piso ou
pavimento de um edifício é cada um dos planos sobrepostos, cobertos e dotados
de pé direito regulamentar em que se divide o edifício e que se destinam a
satisfazer exigências funcionais ligadas à sua utilização”.
Outros artigos de
PEDRO JORDÃO
+ A morte do BAIRRO
IRENE tem prazo certo: 10 anos
+O que se esconde
por trás da "liberdade religiosa" de Carlos Carreiras?
+Escolas de Cascais: Negociatas e ideologias
+Um novo Judas
+Registar um cão de companhia custa 5 vezes mais do que pedir uma licença de porte de arma: o estranho caso dos cães de Cascais e Estoril
+O plástico em Cascais: preocupação séria ou mera cosmética?
+Shoppings, lojas de souvenirs e hamburgers- e o comércio tradicional de Cascais?
+Interesses-O caso da Costa da Guia (Parte2)
+Escolas de Cascais: Negociatas e ideologias
+Um novo Judas
+Registar um cão de companhia custa 5 vezes mais do que pedir uma licença de porte de arma: o estranho caso dos cães de Cascais e Estoril
+O plástico em Cascais: preocupação séria ou mera cosmética?
+Shoppings, lojas de souvenirs e hamburgers- e o comércio tradicional de Cascais?
+Interesses-O caso da Costa da Guia (Parte2)
+Apresentação
Pública ou destruição consumada?-o caso da Costa da Guia
+A farsa do Orçamento Participativo
+Para onde é que Cascais avança, sr. presidente?
+Cai o pano
+Vote a 1 de outubro!
+Cascais avança para onde?
+Da forma de estar na política
+Cascais, terra de pescadores?
+Adeus, Monte Estoril! Adeus, Cascais!
+A farsa do Orçamento Participativo
+Para onde é que Cascais avança, sr. presidente?
+Cai o pano
+Vote a 1 de outubro!
+Cascais avança para onde?
+Da forma de estar na política
+Cascais, terra de pescadores?
+Adeus, Monte Estoril! Adeus, Cascais!
*Os artigos de opinião publicados são da
inteira responsabilidade dos seus autores e não exprimem, necessariamente, o
ponto de vista de Cascais24.

Sem comentários:
Enviar um comentário