Mulher revela em tribunal “terrível segredo” da sua vida para justificar burlas no OLX

JUSTIÇA

REVELAÇÃO. Arguida em tribunal: “Eu estava grávida do meu pai e tive de fazer um aborto… quando o feto tinha 9 semanas”
28 dezembro 2020
Uma mulher, 33 anos, que começou a ser julgada no Tribunal de Cascais, justificou burlas reincidentes no OLX, com falsas ofertas de emprego, praticadas entre 2015 e 2017, pela necessidade de arranjar meios de subsistência para si e para a mãe doente, por terem fugido de casa, no Alentejo, depois do pai a ter violado e engravidado quando era mais nova. 
“Sou culpada de tudo! Confesso na íntegra, exceto de que o fazia como modo de vida”, declarou a arguida na primeira audiência do julgamento, no Juízo Central Criminal de Cascais, confrontada com o esquema de falsos empregos de que foram vítimas desempregados que andavam à procura de trabalho.

Quando o presidente do coletivo de juízes a questionou sobre a razão de ser dos crimes praticados, começou a gaguejar e entrou em pranto, exteriorizando sentimentos penosos e reprimidos, como quem carrega uma cruz demasiado pesada.

“Eu estava grávida do meu pai e tive de fazer um aborto… quando o feto tinha 9 semanas”, balbuciou a arguida, que até hoje tudo tinha feito para que ninguém soubesse o seu terrível segredo.

O próprio juiz-presidente teve alguma dificuldade em perceber as palavras meio abafadas pelos soluços, e o choro convulsivo, tendo aconselhado a mulher a “respirar fundo para se acalmar”. 

JUIZ presidente teve alguma dificuldade em perceber as palavras meio abafadas pelos soluços, e o choro convulsivo, tendo aconselhado a mulher a “respirar fundo para se acalmar”. 

“Contei à médica de família que tinha sido violada pelo meu pai e ela ajudou-me a fazer um aborto, numa clínica privada de Lisboa, a única que tem convénio com o Serviço Nacional de Saúde”, para esse efeito. 

A arguida adiantou que fez queixa do pai ainda quando viviam juntos na mesma casa, tendo sido aplicado ao progenitor a pulseira electrónica, para impedir que se aproximasse dela e da mãe.

Porém, não foi capaz de informar o resultado do julgamento do pai pela violação de que diz ter sido vítima, em 2014, assegurando que desde 2016 nada sabe do progenitor.

Recorda-se apenas de ter prestado declarações à Polícia Judiciária, na sequência da queixa apresentada à GNR, mas nunca foi convocada para comparecer em tribunal.

Pedia 30€ a 40€ para “fardamento”

Os crimes de burla de que está acusada prendem-se com a publicação de anúncios na Internet com falsas ofertas de emprego.

Às pessoas que lhe telefonavam, para o número indicado no anúncio, pedia antecipadamente 30€ a 40€ “para fardamento”, a depositar numa conta bancária de que era titular, como primeiro passo para se candidatarem à pretensa vaga de emprego.

Os interessados também podiam candidatar-se ao falso emprego através de um endereço de e-mail criado de propósito.

O esquema da burla consistia ainda na pretensa venda de um alegado robot de cozinha, pela módica quantia de 30€, segundo o MP. Para esse efeito, foi criada outra conta de correio eletrónico.


PUBLICAVA de anúncios na Internet com falsas ofertas de emprego

A mulher já foi julgada pela prática de crimes de burla idênticos, durante o mesmo período de tempo, tendo sido condenada em várias penas de multa e prisão suspensa na sua execução. 

A primeira condenação data de 2015, em processo sumaríssimo, e reporta a factos ocorridos em Junho de 2014.

“Foi tudo igual e durante o mesmo período de tempo. Houve processos que não chegaram a julgamento por ter ressarcido os lesados”, declarou a arguida, confrontada pelo juiz-presidente com as anteriores condenações que constam do seu certificado de registo criminal.

Adiantou que sempre trabalhou na restauração, recebendo ao dia 30 euros como ajudante de cozinha, mas o patrão não fazia descontos para a Segurança Social. E por causa da violação, seguida pela gravidez e aborto, teve de deixar o emprego, tendo passado a viver sem morada estável, com a mãe, em diversas aldeias para escapar às perseguições do pai durante vários anos.

Todos os lesados serão compensados

Disse ainda que o esquema de burlas foi concebido para fugir de casa e arranjar meios de sustento para si e a própria mãe, que estava ao seu cuidado por ter sofrido um AVC e precisar de apoio permanente por não poder estar sozinha.

Contou ainda ao tribunal que já compensou os lesados nos anteriores processos-crime, devolvendo-lhes o dinheiro, faltando apenas reparar as pessoas que enganou, entre 2015 e 2017, no âmbito do processo julgado no Tribunal de Cascais.

Revelou que muitas das burlas foram praticadas para arranjar dinheiro com o objetivo de pagar a uma terceira pessoa para cuidar da mãe, a fim de poder trabalhar, tendo chegado a acumular dois empregos. 

JULGAMENTO continua em breve no Tribunal de Cascais

Perante este caso chocante de violência e abusos sexuais, o juiz-presidente disse à arguida que, em vez de fazer o que fez, podia ter recorrido à proteção e ajuda da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que inclusive dispõe de casas-abrigo para acolher as pessoas que são vítimas daqueles crimes.

A arguida revelou, então, que chegou a contactar um núcleo, no Alentejo, daquela instituição particular de solidariedade social, pessoa coletiva de utilidade pública, mas pouco mais adiantou.

Face à confissão dos “factos objetivos” da acusação, o procurador do Ministério Público prescindiu da audição dos lesados, arrolados como testemunhas da acusação.

Três dos lesados, um homem e duas mulheres, que iam ser ouvidos presencialmente foram, então, chamados à presença do juiz-presidente que lhes comunicou que a arguida manifestou a intenção de restituir os valores de que se apropriou.

O julgamento prossegue em breve.



 


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