Cascais promove o Jogo do Pau

DESPORTO/Entrevista


Por REDAÇÃO
21 setembro 2020

O Jogo do Pau, arte marcial tradicional portuguesa que caiu no esquecimento da maior parte dos portugueses, está a ganhar cada vez mais entusiastas no concelho de Cascais. E, no próximo sábado, dia 26, há um “workshop” com praticantes, organizado pela Associação “Jogo do Pau Cascais/Stafffighters”, liderada pelo arquiteto Ricardo Moura que, para além de fundador e presidente da direção, também é treinador principal. Em entrevista a Cascais24, Ricardo Moura aproveita para deixar um convite a “todos os que não sabiam que existe uma arte marcial tradicional portuguesa, e aos que já sabiam, a vir ter connosco ou a contactar-nos, pois temos o maior prazer em explicar, mostrar e ensinar tudo o que fazemos e como fazemos”. 

Ricardo Moura, fundador, presidente de direção e treinador principal

Cascais24-  Vai realizar-se no próximo sábado, dia 26, em Cascais, um "workshop" com praticantes do 'Jogo do Pau' e do 'Kali'. Qual é o objetivo desta iniciativa?

Ricardo Moura- Esta não é uma iniciativa única, mesmo dentro do Jogo do Pau, temos tido o prazer de receber mestres de outras escolas que nos mostram um pouco da sua técnica, tem sido uma troca de experiências fantástica que esperamos continuar com outras escolas e outras artes marciais.

Os objetivos, são vários, depende um pouco de como abordamos o evento, e do aluno ou professor a quem perguntar.

Como atletas e artistas marciais, o saber nunca é de mais, temos é de o procurar porque ele não aparece do nada, o meu propósito enquanto professor de Jogo do Pau é procurar todos os dias acrescentar algo a mim, e incentivar os meus alunos a fazerem o mesmo.

Convidamos mestres e companheiros que nos fazem o favor de partilharem o seu saber, porque queremos crescer, queremos ter mais conhecimentos, mais informação.

Gostamos de saber sobre tudo o que são artes marciais, principalmente as que trabalham com base em armas de impacto e corte, e aproveitamos todas as oportunidades.

Como clube de Jogo do Pau, e também como indivíduos, achamos importante estabelecer relações de amizade com outros clubes e atletas. Independentemente da arte que praticamos somos todos apaixonados pela técnica, filosofia, ou combate das artes marciais tradicionais, e deve ser isso o que nos une, apesar de muitas vezes nos isolarmos ou separarmos por questões menos importantes.

 Por outro lado, o aspeto mais prático e talvez o mais importante para o jogador do Pau, é a possibilidade de testar a nossa técnica contra outros atletas de Jogo do Pau e de outras Artes Marciais.

O Jogo do Pau, é uma arte de combate, e apesar de todas as vantagens físicas, psicologias e sociais de treinar a nossa arte marcial, a origem da nossa arte é o combate, e é a busca da eficácia de combate que atrai a maior parte de nós.

Para sermos eficazes temos de nos testar em cada treino, jogar com o maior número de adversários, temos de procurar eliminar as nossas fraquezas e melhorar a nossa técnica, a nossa estratégia ou abordagem ao combate.

Se nunca jogarmos contra adversários que não nos querem facilitar a vida, tudo vai funcionar às mil maravilhas, vai aparentar que tudo funciona, mesmo a técnica mais estranha vai aparentar eficácia porque nunca é testada.

Se nos fecharmos na nossa escola a treinar uns com os outros, acontece algo parecido, começamos a encaixar o nosso combate uns nos outros porque fazemos todos a mesma técnica, e tudo parece funcionar.

Na nossa escola, não aceitamos isso. Além de treinarmos entre nós, claro. Queremos treinar com outros atletas, de outras escolas, de outras artes marciais, queremos desafios para podermos crescer. É por isso que convidamos mestres e atletas a vir treinar connosco, é por isso que organizamos competições abertas, estágios, etc…

Cascais24-  Conhecemos a tradição do 'Jogo do Pau' como uma arte de combate que, em tempos, teve grande expansão popular. Mas hoje o que é o 'Jogo do Pau'?

Ricardo Moura- Hoje é o mesmo, ou pelo menos o resultado disso, sem a parte da grande expansão popular.

O Jogo do Pau hoje apesar de ter caído no esquecimento da maior parte dos portugueses, encontra-se espalhado em várias escolas pelo território português, e não só, que têm realizado um trabalho fantástico para reanimar e divulgar a nossa arte, cada uma com as suas particularidades de como veem o Jogo do Pau.

Se me pergunta o que é o Jogo do Pau…depende de onde o aprender, ou então é o conjunto de todas as suas abordagens.

O Jogo do Pau é uma arte marcial tradicional, tem um conjunto de princípios, técnicas, e graduações como as artes marciais mais conhecidas, mas também é uma tradição que tem passado de forma oral e através da prática de pais para filhos, mestres para alunos.

 É um desporto porque melhora a capacidade e a forma física dos seus praticantes, e que envolve competição, que organizamos regularmente, e que normalmente são abertas a todos os praticantes de artes marciais.

 É uma atividade cultural, que está presente em vários eventos na sua versão de demonstração ou representação.

Além disso podemos encontrar várias menções ao Jogo do Pau nas mais diversas obras literárias. Existem vários contos portugueses com menção de praticantes de Jogo do Pau, talvez a obra mais conhecida seja “O Malhadinhas” de Aquilino Ribeiro, mas também posso referir “o Cortiço” do autor brasileiro Aluisio de Azevedo que descreve uma cena de paulada.

 Em suma, é uma Arte Portuguesa, com as suas várias abordagens, faz parte da nossa historia, cultura e está em franco crescimento como desporto e atividade física. 

Cascais24- Qual é a expressão atual do 'Jogo do Pau', nomeadamente em Cascais?

Ricardo Moura-  O Jogo do Pau, nunca foi um desporto de massas, atualmente em termos globais temos poucos praticantes, como sempre tivemos se compararmos com outras modalidades mais conhecidas, mas estamos em forte crescimento. Há 5, 6 anos, só estavam em atividade 10 ou 20% dos clubes que estão hoje a funcionar. Hoje já voltaram os encontros nacionais entre escolas, cada vez há mais atletas…o futuro promete.

Em Cascais, apesar de ser uma Associação recente, comecei a dar aulas de Jogo do Pau em Cascais em 2013, já fez 7 anos, e apesar de existir um ou outro relato de existirem alguns jogadores na região de Cascais, não existe registo de haver anteriormente uma presença ou escola do Jogo do Pau como a que estamos a criar.

Temos cada vez temos mais alunos e atividades.Teríamos organizado no nosso concelho, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, um grande evento internacional de artes marciais. Estava tudo preparado com a presença de mestres e atletas estrangeiros, mas acabámos por ter de o suspender porque calhou mesmo no meio do período de confinamento que todos passámos. Espero poder repetir com mais sucesso no futuro.

Na época passada já tínhamos 3 locais de treino: no Grupo Desportivo da Chesol em Cascais, nos Bombeiros de Carcavelos com a Associação Soma Não Zero e na EB Alfredo da Silva, em Sintra, com a Associação Velha Guarda Marcial.

Vamos ver como saímos deste período, mas posso afirmar com segurança que já temos mais alunos do que tínhamos antes do confinamento, talvez por ser uma atividade que se pratica com uma distância segura, talvez porque todos tivemos mais tempo para ver o que andava à nossa volta.

De qualquer modo, o Jogo do Pau em Cascais, está a crescer em força.

Cascais24- Qualquer um, ou uma, pode praticar o 'Jogo do Pau'? No nosso concelho como o pode fazer?

Ricardo Moura- Qualquer pessoa pode praticar. Ponto. Não fazemos distinção de género, idade ou capacidade física. Claro que os objetivos de cada praticante podem ser diferente dos restantes, mas a nossa arte adapta-se bem a qualquer objetivo, seja perda de peso, aumento de performance física, manutenção, gosto pela técnica, é preciso é gostar e querer fazer, a partir daí tudo se adapta.

Se quiserem praticar aqui na região de Cascais o melhor é entrarem em contacto no nosso site  “jogodopaucascais.com” ou nas redes sociais se procurarem por Jogo do Pau Cascais. Como estamos a treinar no exterior durante esta fase e enquanto for possível, convém combinar antes de aparecer, mas mesmo que seja para vir experimentar, ou para ver e falar connosco, sem compromisso, teremos o maior prazer em receber-vos. Aliás contamos com a vossa visita em breve.

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