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28 SETEMBRO 2018 |
No dia 3 de setembro, durante um mergulho de rotina, uma
equipa de arqueólogos subaquáticos fez aquela que já é considerada a grande
descoberta dos últimos tempos.
Uma presumível Nau da Carreira da Índia naufragada algures
entre os finais do século XVI e os inícios do século XVII foi descoberta no
âmbito da campanha de 2018 da Carta Arqueológica Subaquática do Concelho de
Cascais. Os vestígios do destroço localizado a cerca de 12 metros de
profundidade incluem canhões de bronze, porcelana chinesa, pimenta e partes da
estrutura do navio.
Quero parabenizar toda a equipa do ProCASC: Projecto de Carta Arqueológica Subaquática do Concelho de
Cascais - colaboradores, parceiros como a Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Investigação Naval,
a Direção-Geral do Património Cultural que contou com o apoio da Estrutura de
Missão para a Extensão da Plataforma Continental - e claro o Município, a
Câmara Municipal de Cascais, que acreditou e apostou no estudo e salvaguarda da
nossa memória coletiva.
Interessa reforçar que esta descoberta não é um mero acaso da
sorte: ela é fruto de um longo trabalho que se iniciou em 2009 com aquele que
viria a ser um projeto de referência, reconhecido pela UNESCO como exemplo de
“boas práticas” no plano da valorização do Património Comum da Humanidade.
Enquanto arqueóloga de formação, tive o privilégio de
trabalhar no ProCASC no âmbito do
estágio e relatório de mestrado em Arqueologia da FCSH.
A minha passagem pelo projeto foi vivida intensamente e
revelou-se também como parte da minha maturação a nível científico, mas
sobretudo humano. Recordo com emoção as manhãs de preparação de mergulho no
Museu do Mar e a experiência da campanha de 2012 e 2013. Dediquei especial
atenção a um destroço de época contemporânea que me levou a uma viagem pelos
arquivos históricos e a algumas apresentações dos resultados preliminares desse
naufrágio.
Mas interessa sobretudo referir que, ao longo do processo de
estágio, adquiri conhecimentos que apenas o mercado de trabalho pode fornecer a
um aluno recém-formado. Lidar com a vertente teórica na instituição não é
suficiente para nos prepararmos para trabalhar em Arqueologia.
Posto isto fiquei obviamente muito satisfeita com a vontade
do Munícipio de Cascais em querer formar arqueólogos no seio deste projeto em
Arqueologia Subaquática e mesmo Industrial, já que desde o ínicio este projeto
incluiu, de modo inovador, destroços de época contemporânea na sua
identificação. Apesar de navios com mais de 100 anos serem considerados pela
UNESCO como Património Cultural Subaquático, estes ainda são desconsiderados na
maior parte dos casos. É uma área de investigação pouco desenvolvida e, com o
aumento da plataforma continental, como estes navios se degradam a uma
velocidade vertiginosa, é toda uma memória coletiva em risco (memória esta que
pode agora também vir a beneficiar deste achado).
Não podia, por isso, deixar de estar presente na apresentação
pública da descoberta no passado dia 24 de setembro, no icónico Forte de Santo
António, para festejar com todas e todos os ex-colegas e envolvidos naquele que
é um marco para a Arqueologia Subaquática em Portugal. Aproveito, aqui, para agradecer
a várias pessoas que não puderam estar presentes no evento mas que contribuíram
para o mesmo, como é o caso de várias e vários mergulhadores com quem privei e
que conhecem bem as marés e muitos destes locais.
Agora há todo um trabalho por fazer e este achado tem tudo
para ser um exemplo de metodologia científica. O Presidente da Câmara de
Cascais garantiu durante a apresentação pública que não será por falta de
verbas que este trabalho deixará de ser concretizado: avançará, antes, com
todas as condições para o efeito. E assim se espera. Como Arqueóloga de
formação posso garantir que ainda há pouco investimento na área Arqueologia em
Portugal e é com bons olhos que vejo Cascais nas bocas do mundo pelos melhores
motivos; uma boa aposta, uma grande descoberta e um estruturante projeto que
tanto me marcou.
*DEPUTADA MUNICIPAL DO PAN
*DEPUTADA MUNICIPAL DO PAN
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2 comentários:
Assistimos lívidos a uma série de gente a pôr-se em bicos dos pés, querendo associar-se ao protagonismo com esta história, de uma nau da carreira das Indias que por azar terá naufragado à porta do Tejo, depois de cruzar dois oceanos, e dormir 400 anos no fundo do mar .
Mérito da carta arqueológica subaquatica de 2009,e da coligação de vontades da Marinha Portuguesa, DG Património e Faculdade Ciências da Nova .
Em Cascais, a liderança paroquial , com a demagogia conhecida, veio afirmar para quem quis ouvir , que Cascais abriu uma nova India, redescobriu as descobertas, um território de aventura, preservação , que o estado local concretizou ... não sabemos em que País ou local vive este iluminado ...lembrou igualmente a nova SBE em Carcavelos, como fonte do saber e competividade ...
Como será possivel apropriarem-se de sucessos de outros, e em que a sua quota parte foi insignificante ... um pouco de humildade e pés na terra para servir quem o elegeu, e justificando o ordenado que ganha ...
A BEM DE CASCAIS
O PAN não se devia prestar a este "canichismo " face às direitas encostadas.
Estar ao lado da vereadora pelouro do ambiente, cujo pai meteu a cunha para os contribuintes pagarem o seu ordenado , não fica bem ao PAN , e contradiz o que o seu único deputado apregoa na Assembleia da República .
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