OPINIÃO
Não mais nos encontraremos nos cafézinhos de sábado. Não continuaremos as conversas sobre o presente e o futuro, sobre as lutas passadas e aquelas que estão por vir. Não iremos prosseguir a partilha das nossas desilusões, dos nossos sonhos e das tarefas para construir a esperança. Fica-nos uma grande tristeza, mas também o exemplo do seu inquebrantável humanismo, da sua resistência e determinação.
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AMÂNDIO Silva era um cidadão da Parede |
O Amândio era um cidadão da Parede. Conhecemo-nos e convivemos em muitos combates locais. Foi sempre um socialista empenhado mesmo quando recentes dirigentes do 'pscascais' o marginalizaram e ostracizaram. Perante esses, da freguesia e do concelho, o Amândio nunca se irritou, mas nutria dolorido desprezo por quantos delapidavam o património político e moral de um Partido Socialista a que ele dedicara um inolvidável empenho durante décadas e no qual continuou a batalhar até aos seus últimos dias.
A dimensão do Amândio era
outra.
Era um herói de mil combates.
Na juventude foi o revolucionário que esteve na ação direta contra o fascismo,
na 'Revolta da Sé', no desvio do avião que distribuiu propaganda sobre Lisboa e
em muitas outras quotidianos batalhas. Foi o amigo de Soares e de Brizola que
se desdobrou em iniciativas constantes para promover a democracia em Portugal e
no Brasil. Com Agostinho da Silva e com muitos 'irmãos' partilhou o querer e o
fazer por uma relação harmoniosa entre os Povos da Língua que ele tanto amava.
Era um obreiro da liberdade e
do socialismo. Na sua visão de esquerda havia clareza de propósitos, pretensão
de unidade e sempre uma enorme disponibilidade para agir por um futuro
mais justo e feliz.
Foi, até hoje, um ativo militante da 'Associação Mares Navegados'. Desde a campanha eleitoral de Sampaio da Nóvoa assumiu ser um dos construtores da 'Plataforma Cascais'. Cabe-lhe ter sido um dos principais impulsionadores do movimento 'Liberdade e Pensamento Crítico'.
A HISTÓRIA reserva-lhe uma página brilhante e todos quantos tiveram o privilégio de com ele conviver tê-lo-ão sempre a seu ladoMas tudo isso é pouco do muito que era o Amândio. Foi um Homem Bom com toda uma imensa vida de 'armação' política e cidadã em que o nosso amigo não só nunca esmoreceu, como ainda alentava outros.
Enfrentando há anos a doença
que o debilitava e que acabou por o levar nunca deixou de afirmar as suas
convicções e empenhou-se sem limites nas realizações com o vigor de quem
conhece o futuro e ambiciona alcançá-lo. Envolveu-se na defesa de entendimentos
democráticos que contribuíssem para uma governação à esquerda, interveio no
combate para salvar e melhorar o SNS, esteve na jornada eleitoral para
enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa e nos combates renovados contra o fascismo
português e brasileiro. Até aos últimos dias, sempre presente.
Talvez não tenha acabado de
escrever os livros com a narrativa das suas preciosas memórias. Provavelmente
em Cascais não lhe farão homenagem nem lembrarão o seu nome na toponímia de uma
rua.
Mas a História reserva-lhe uma
página brilhante e todos quantos tiveram o privilégio de com ele conviver
tê-lo-ão sempre a seu lado.
Mais do que a saudade,
deixas-nos uma imensa determinação.
Amândio, até logo.
*Os artigos de opinião publicados são da inteira responsabilidade dos seus autores e não exprimem, necessariamente, o ponto de vista de Cascais24.
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